Diário Estelar - Entrada 02: Rambo (O Livro)

Foi com imensa alegria que descobri em Portugal o livro que serviu de base para o primeiro filme do homem-testosterona Rambo em 1982.

A obra de David Morrell foi publicada pela primeira vez em 1974 e logo conseguiu o estatuto de obra de culto. Não é de admirar que os muito originais argumentistas de Hollywood não tardassem em adaptar a obra à tela prateada.

Durante muitos anos eu nem fazia ideia que o filme era baseado num livro, pois sempre associei a saga Rambo a acção desmiolada (mas da boa).

Imediatamente comprei o livro na loja virtual da Bertrand, pois é quase impossível encontrá-lo numa prateleira física, e devorei-o numa semana, ávido de compará-lo com o seu homónimo cinematográfico.

A conclusão a que cheguei foi... são completamente diferentes!

ALERTA DE SPOILERS: O Rambo morre no livro!

O meu livro guardado pelo Sr. Myers

É verídico, o Rambo do livro morre pelas mãos do seu mentor Trautman.

Imaginem o meu espanto quando folheei a última página do livro e me apercebi que um ícone dos anos 80 poderia nunca ter existido se Hollywood se tivesse mantido fiel ao livro (felizmente foram visionariamente gananciosos para verem que tinham um franchise nas mãos). 

Mas atenção! O filme quase terminou da mesma maneira, mas após fracos testes com audiências foi filmado um desfecho mais optimista onde o herói sobrevive.

No link abaixo podem confirmar o final cortado:

Chocante, não é? Mas eu estou aqui para falar do livro original de David Morrell.

No geral adorei a obra, apesar das inúmeras diferenças em relação à personagem de Rambo que me custaram a assimilar. 

Curiosidade: David Morrell foi buscar o nome de Rambo a uma variedade de maçãs.

O enredo do livro centra-se no veterano de guerra John Rambo que deambula sem destino pelo interior dos Estados Unidos.

Um dia chega a uma pequena povoação onde é impedido de entrar pelo Xerife local, Teasle.

O choque entre os dois homens leva à detenção de Rambo, que é conduzido à esquadra local. No decurso do processo de detenção os instintos de Boina Verde e stress pós-traumático levam o veterano a entrar numa espiral de loucura que culmina na morte de 2 policias e uma fuga para as montanhas.

Assim se inicia uma caça ao homem e um jogo de egos entre Teasle e o foragido.

O livro desenrola-se praticamente da mesma maneira que o filme, mas muda em tantos pequenos pormenores que quase parece uma obra diferente.

Por exemplo:

• John Rambo mata bateladas de inocentes durante a sua fuga.
• O Xerife Teasle é uma personagem muito mais relevante e profunda, sendo a maioria do livro narrado através dos seus olhos.
• É Rambo que provoca o conflito inicial com as forças policiais e não existem episódios de tortura na esquadra.
• Rambo passa quase uma noite nú em fuga pela cidade e floresta.
• Rambo é claramente louco e movido pelos traumas do passado provocados pela experiência de ser prisioneiro de guerra no Vietname.
• Rambo fica preso numa mina cheia de morcegos, e não ratos como no filme.

ALERTA DE CHALUPAS

• O Xerife Teasle e Rambo partilham um laço psíquico após o primeiro confronto nas montanhas.

Chocante...

No geral, o livro está divido em dois pontos de vista: o de John Rambo, que traumatizado se revolta contra a discriminação contra os veteranos de guerra em solo americano e o do Xerife Teasle, que tenta deter um claro perturbado individuo com graves problemas mentais.

É o choque do orgulho dos dois protagonistas que vai escalando a violência da situação até a cidade perecer numa derradeira bola de fogo desencadeada por Rambo.

Achei o livro muito mais complexo e profundo que não divide os "bons" dos "vilões", pois ambos são uma mescla dos dois pólos. Tanto Teasle como Rambo têm os seus motivos para fazerem o que fazem e no final ficamos verdadeiramente divididos em relação a quem é o verdadeiro vilão.

David Morrell escreveu este livro não como uma obra de acção, mas uma sátira social que apontava o dedo ao modo como o povo americano acolheu os seus veteranos após a guerra, e neste sentido é um livro incisivo como um bisturi.

Sinceramente adorei o livro, tanto como o filme, e não hesitaria em recomendá-lo a quem queira ler um óptimo thriller de acção psicológica.

NOTA FINAL:

4 Gotas de "First Blood"