Diário Estelar - Entrada 08: O Ente Misterioso (The Entity - Crítica)

Esse filme ficou para sempre marcado na minha memória pela estranheza e brutalidade da sua sinopse e desde então tornou-se um dos marcos que uso para quantificar o efeito de choque de um filme.
Esse filme é a película de 1982 "O Ente Misterioso" ("The Entity" no original).
Era eu ainda um rapazinho demasiado novo para ver filmes de terror quando fiquei até madrugada a ver "O Ente Misterioso" com o meu irmão no quarto, com o volume da televisão muito baixinho para não acordar os meus pais.
Para nós era quase um delicioso pecado estar a ver algo proibido, e aliando a temática do filme à ilicitude de vê-lo à socapa, gravei-o para sempre na minha memória como um ícone do que deveria ser uma obra do terror: algo com uma aura de solidão e temor, uma recordação perdida pela madrugada, mas vívida no subconsciente.
Para nós era quase um delicioso pecado estar a ver algo proibido, e aliando a temática do filme à ilicitude de vê-lo à socapa, gravei-o para sempre na minha memória como um ícone do que deveria ser uma obra do terror: algo com uma aura de solidão e temor, uma recordação perdida pela madrugada, mas vívida no subconsciente.
AVISO: CONTEÚDO SENSÍVEL (A SÉRIO!)
O ENREDO
Estreado no mesmo ano em que outro clássico do terror nascia ("Poltergeist"), "O Ente Misterioso" (que vou passar a referir pelo título original "The Entity") é uma película realizada por Sidney J. Furie e escrita por Frank De Felitta, baseada num livro de 1978 também da sua autoria.
Faço aqui um desabafo/apelo às editoras nacionais para publicarem mais livros de terror no nosso território. Este filme é baseado numa obra fantástica que tive o prazer de ler na sua versão brasileira e adoraria que mais portugueses pudessem ter o gosto de ler livros deste género.
Deixo aqui sugestões de livros a adaptar, que garanto que seriam um sucesso em Portugal:
Deixo aqui sugestões de livros a adaptar, que garanto que seriam um sucesso em Portugal:
- Phantoms de Dean Koontz.
- Hell House de Richard Matheson.
- Ghost Story de Peter Straub.
- The Beast Within de Edward Levy.
- Christine de Stephen King.
- Parasite Eve de Hideaki Sena.
- Cujo de Stephen King.
- The Howling de Gary Brandner.
- Friend de Diana Henstell.
- The Devil's Advocate de Andrew Neiderman.
- Legion de William Peter Blatty.
- Dark Water de Koji Suzuki.
Entre muitos outros que estão desejosos de ser traduzidos na nossa linda língua nativa.
O enredo do filme é liderado por Clara Moran (Barbara Hershey), uma mãe divorciada da classe média/baixa que subitamente vê a sua vida abalada por forças inexplicáveis quando começa a ser sexualmente atacada por uma entidade paranormal.
Assustada e envergonhada tenta esconder o facto pensando estar enganada ou pior, louca.
As certezas confirmam-se quando a violência dos ataques se torna tão intensa que os seus filhos e casa sentem as suas consequências físicas.
Desacreditada pela comunidade científica vê-se sozinha com os seus filhos contra uma ameaça invisível imparável.
Apenas o seu psiquiatra Phil Sneiderman (Ron Silverman) tem uma leve suspeita de que Clara poderá estar a dizer a verdade e decide ajudá-la a enfrentar os seus medos. Não porque acredite realmente que um fantasma a viole, mas porque talvez esse fantasma seja um trauma escondido que necessite de ser exorcizado.
Juntos contactam uma equipa de investigadores paranormais para ajudarem a familia Moran a sair do horror que a consome por dentro e detrói a matriarca.

A investigação culmina numa arriscada experiência científica da qual não revelarei muito pois é o clímax do filme e merece ser vista com uma percepção virgem dos acontecimentos.
Mas posso garantir-vos que é um desfecho tenso e digno do optimo filme de terror que se foi construindo até ao fim iminente.
Sob a apertada vigilância de toda uma equipa de cientistas, resta a Carla demonstrar que o seu pesadelo é real e que a Entidade existe. Mas será mesmo assim…?
Durante grande parte do filme vamos assistindo às violações da protagonista e não temos qualquer dúvida que o seu sofrimento é verdadeiro, mas também é subtilmente assinado nas entrelinhas que poderemos estar a ver algo explicável. Talvez uma manifestação da sua mente perturbada, vitima de rejeições e abusos de toda uma vida.
Esta constante luta contra a Entidade e o cepticismo de todos em redor vão atirando Carla para um abismo de dor até nada mais restar da sua alma e sanidade, arrastando a sua familia e outrora pacata vida domestica até aos extremos da normalidade.

Durante grande parte do filme vamos assistindo às violações da protagonista e não temos qualquer dúvida que o seu sofrimento é verdadeiro, mas também é subtilmente assinado nas entrelinhas que poderemos estar a ver algo explicável. Talvez uma manifestação da sua mente perturbada, vitima de rejeições e abusos de toda uma vida.
Esta constante luta contra a Entidade e o cepticismo de todos em redor vão atirando Carla para um abismo de dor até nada mais restar da sua alma e sanidade, arrastando a sua familia e outrora pacata vida domestica até aos extremos da normalidade.
A REALIDADE
O filme e livro foram escritos por Frank De Felitta baseados em factos verídicos.
É verdade!
Doris era uma domestica mãe de quatro filhos que afirmava ser regularmente violada por três fantasmas do sexo masculino.
O caso chamou a atenção dos investigadores Barry Taff e Kerry Gaynor que documentaram exaustivamente a situação, tendo mesmo conseguido fotografar orbes luminosas de (alegada) natureza paranormal.
Os ataques a Doris foram abrandando com o passar dos anos mas continuaram a acontecer no decurso da sua vida.
Doris viria a falecer em 1995 com cancro pulmonar.
Doris viria a falecer em 1995 com cancro pulmonar.
Deixarei um link abaixo com uma ligação a mais informações sobre este aterrorizante acontecimento:
VEREDICTO
"The Entity" é um filme choque, um soco no estômago que nos apanha de surpresa aquando da primeira violação de Carla e mantém-nos sob um espesso manto de desconforto até o seu clímax. Os efeitos especiais são fenomenais e tremendamente bem executados, comparáveis aos do seu "rival" fantasmagórico de 1982, "Poltergeist".
Uma imagem que ficou para sempre marcada na minha memória foi a do corpo despido de Carla a ser manuseado por mãos invisíveis. A cena transpira horror e os ambiciosos efeitos de um corpo inteiro moldado como barro fresco são chocantes e eficazes em nos transmitir um terror crú como carne.
As interpretações são sólidas e sóbrias, na generalidade óptimas. Mas tenho de destacar três em particular:

Ron Silverman que interpreta o lado sóbrio e alicerçado na realidade de uma intriga fantástica.
E por fim, mas com muito destaque, o actor que interpreta o filho mais novo de Clara, David Labiosa, pois destaca-se no papel de um jovem adulto perante o choque de um assalto sexual à sua mãe.
A cinematografia é sóbria e utiliza alguns dos jeitos de Hitchcock/Brian De Palma, como enquadramentos inclinados e sobreposição de planos. A fotografia é sombria e de tons escuros e a banda sonora tem um toque clássico misturado com sons industriais, patente no tema que se ouve durante as violações.
TRAILER DO FILME:
No final consideraria este filme uma pérola perdida do terror dos anos 80 que muita gente desconhece. Talvez por ter sido ofuscado pelo fenómeno "Poltergeist" de Spielberg ou talvez evitado pela brutalidade da sua temática.
NOTA FINAL:


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